A Polícia e o recente cúmulo do absurdo. A cidadã de posse de uma quantia superior a R$ 13 mil reais  acondicionados em sua bolsa, teria se dirigido até a Delegacia de Salto, na  região de Sorocaba, em São Paulo, no sentido de registrar uma ocorrência  policial dando conta de que o seu número de telefone celular estaria clonado, e  ali, na sala de espera, fora abordada por um marginal que tomou à força a sua  bolsa. Desprende-se das diversas reportagens que o delinqüente que provavelmente  vinha seguindo a comerciante desde a retirada da referida quantia em banco,  agrediu e roubou a bolsa da vítima, tudo isso ocorrido no interior dessa  Delegacia de Policia em que estavam presentes, além de outras pessoas comuns,  três funcionários, provavelmente dos quadros da Policia Civil daquele Estado,  que assistiram imóveis e sem esboçarem quaisquer tipos de reação ao ato  criminoso que lhes eram obrigatórios devido às suas supostas funções policiais  inerentes. Consta que a vítima reagiu ao assalto e chegou a entrar em luta corporal  com o seu agressor por duas vezes, dado ao fato de que na primeira investida ela  teria levado a melhor e conseguido jogar a sua bolsa por cima do balcão  justamente para onde estavam dois funcionários da Delegacia, destarte, que na  segunda investida e tentativa para retomar a sua bolsa das mãos do bandido que  ainda tivera tempo suficiente para pular o balcão de ida e volta, fora a  vítima refreada da sua ação pela voz do  marginal que ordenara ao seu comparsa que estava do lado de fora do recinto para  atirar na mesma, fato que não ocorreu. Momentos depois, a reativa e corajosa vitima ainda indignada, e com toda  razão, desabafou para um canal de televisão que cobriu o  fato: - O Escrivão depois disse que não intercedeu porque ele achou que era uma  briga de marido e mulher. Eu achei o cúmulo do absurdo. Fosse briga de marido e  mulher, fosse briga de vizinho, o mínimo que eles podiam fazer era intervir. Eu  posso ser assaltada no supermercado, na rua, no cinema, na praça, na calçada, no  portão da minha casa, mas nunca dentro de uma  Delegacia. O trabalho do Policial é árduo, perigoso e estressante, por isso, exige  prudência, perseverança, amor a profissão e capacidade de concentração aguçada  com equilíbrio e razoabilidade nos seus atos para que não ocorram os deslizes,  mas nesse fato, se é como fora pintado, teriam realmente os referidos servidores  obrigação de intercederem no evento criminoso mesmo que se isso valesse as suas  próprias vidas. Tal fato altamente negativo atinge em cheio todas as Instituições  policiais do nosso país, vez que o povo nunca faz distinção entre as polícias.  Para a esmagadora parte da população a Polícia é uma só e dela todos esperam a  proteção devida conforme estabelece a Constituição  Federal. É evidente que os três funcionários que estavam presentes na Delegacia  devem ser investigados com toda a isenção ou rigor possível pela Corregedoria de  Policia Civil de São Paulo, dando-lhes todos os direitos de ampla defesa  inerentes e, se forem considerados culpados, punidos na forma das Leis  Administrativa e Penal. É evidente também que a vítima deve ser reembolsada do seu prejuízo  financeiro pelo Estado, não com um processo demorado e burocrático que leva anos  para resolução com recursos e tudo mais, e sim, através de uma Ação rápida que  restabeleça a vítima e ao povo o respeito pelas nossas instituições públicas,  vez que de resto, ao plano geral, no fundo, o Estado é o principal responsável  por tal ocorrido por não dispor de Policiais suficientes para guarnecer a  Delegacia. Do crime de roubo praticado por tais marginais, que pode decorrer outros  crimes inerentes aos funcionários públicos presentes demonstram a  vulnerabilidade existente em nossas Polícias. Não só na Polícia Civil daquele  Estado, mas em todas as Polícias do Brasil que foram corroídas por várias eras,  em diversos Governos passados. A segurança pública sempre foi esquecida e sucateada através dos anos. As  Polícias sempre foram relegadas ao segundo plano, principalmente no que tange a  valorização profissional dos seus membros. Com raras exceções, poucas conquistas  foram alcançadas pelas classes policiais em alguns Estados da  Nação. O tempo passa e com ele a nossa credibilidade perante a opinião do povo  vai ficando cada vez mais distante, com isso as nossas lutas são inglórias. Os  nossos Projetos de Emendas a Constituição se arrastam por anos a fio no  Congresso Nacional sem solução alguma. O povo já não confia mais na sua Polícia  e, fatos negativos como esse assalto dentro de uma Delegacia de Polícia nos leva  cada vez mais para baixo. Com a credibilidade policial em baixa aumentam-se as estatísticas  enganosas colocando os níveis da violência urbana em melhores patamares, quando  na verdade é o contrário, pois o povo deixa de registrar principalmente  ocorrências de fraudes, furtos e roubos por não mais acreditar na sua Polícia.   Com isso os Governos repassam esses dados não condizentes como se  verdadeiros fossem para o povo enaltecendo as suas gestões de segurança pública  e até gastando fábulas com propagandas baseadas em erros, não por números  maquiados, e sim em decorrência da falta absoluta de confiança da população nas  ações policiais. Diante da real falta de credibilidade e da perda da confiança do povo nas  ações da sua Polícia com o conseqüente desleixe estatal para com as nossas  instituições, devemos, pois, lutar por uma Polícia verdadeiramente forte, por  uma Polícia única como ótima opção para resolução da  problemática. O tempo de briga por moedas e migalhas deve ficar para trás. Devemos  recolher as nossas desavenças, esquecer de vez as  medições de poder ainda existente entre  as Polícias Civil e Militar, que fazem com que fiquemos com forças divididas e  partir para uma luta mais sólida e dignificante. Nós somos agentes de transformação social e não somos analfabetos  políticos nem tampouco devemos pensar em desestabilizar governo algum, devemos  sim, lutarmos para mostrar a nossa grandeza através da habilidade porque também  entendemos de técnicas dialógicas e não só do combate ao crime pela  força. Devemos lutar pelo que merecemos através da perspicácia, pois assimilamos  uma verdade que não é só nossa e sim da população que clama por uma segurança  pública justa e eficaz. Devemos lutar pela nossa valorização profissional de maneira zelosa  porque discutimos sobre a sociedade e é dessa mesma sociedade o desejo de ter  uma Polícia forte e eficiente para a conseqüente proteção do bem  comum. Para chegarmos a esse patamar superior, não devemos usar a linguagem  beligerante nem tampouco arrogante ou desafiante, e sim, a linguagem inteligente  do consenso para a recondução da razão instrumental em busca daquilo que achamos  satisfatório para a possível Polícia unificada e ideal para o povo, pois é do  povo a nossa razão de existência. Juntos, resgataremos a nossa dignidade perdida, a confiança e a  credibilidade do povo, pois passaremos a ser uma entidade policial  verdadeiramente forte. Delegado de Policia há mais de 24 anos, Pós-Graduado  em Gestão Estratégica de Segurança Publica pela UFS. Titular em quase todas as  Delegacias da capital, além de ter exercido os cargos em Direção do COPE,  COPCAL, COPCIN e CORRREGEDORIA-GERAL da Polícia Civil de Sergipe por duas  vezes. "Com  a credibilidade policial em baixa aumentam-se as estatísticas enganosas  colocando os níveis da violência urbana em melhores patamares, quando na verdade  é o contrário, pois o povo deixa de registrar principalmente ocorrências de  fraudes, furtos e roubos por não mais acreditar na sua Polícia.  "
sexta-feira, 21 de maio de 2010
A Polícia e o recente cúmulo do absurdo. Do delegado Archimedes
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